A Educação: Prioridade no Discurso, Ausente na Prática
Por Hélio Taques
Ah, a EDUCAÇÃO no Brasil... A cada eleição, a educação emerge como uma das principais promessas políticas, ecoando nos discursos de candidatos ávidos por votos e na esperança de uma população desejosa por mudança. É tipo aquela promessa de dieta que a gente faz todo início de ano: todo mundo fala que vai priorizar, mas na prática, a coisa desanda mais rápido que o baguncinha na mão de quem está com fome!
A cada eleição, lá vem os políticos com seus discursos cheios de promessas educacionais, como se fossem distribuir diplomas de graça no final do mandato. Mas, na vida real, a gente continua vendo salas de aula caindo aos pedaços e professores se virando nos trinta pra ensinar em lousa de vidro que ninguém enxerga nada.
Ao longo dos anos, ficou claro que essa prioridade proclamada, raramente, se traduz em ações concretas. Enquanto a retórica política enaltece a importância da educação como pilar fundamental para o desenvolvimento nacional, a realidade das salas de aula e dos corredores das escolas brasileiras conta uma história diferente. As eleições municipais estão chegando, será novidade o discurso que a educação é prioridade?
Há duas décadas, o panorama educacional brasileiro já apresentava desafios consideráveis, como a falta de infraestrutura adequada nas escolas e metodologias pedagógicas obsoletas. No entanto, hoje nos deparamos com problemas ainda mais complexos e alarmantes, que não apenas persistem, mas se intensificaram e refletem em crimes que "chocam" como os "serial killers do Uber" em Cuiabá nos últimos dias.
Aliás, essa é uma das preocupações mais prementes - o crescente recrutamento de jovens por facções criminosas. Veja, nobre leitor, que até parece que o currículo escolar incluiu uma matéria de "máfia básica" sem a gente saber! Nas ruas, está mais fácil encontrar um criminoso mirim do que uma biblioteca bem equipada, enquanto os políticos discursam sobre como a educação vai salvar o mundo. Estou sendo hiperbólico? Talvez não!
O aumento do aliciamento de estudantes desde o ensino fundamental não apenas compromete o futuro desses jovens, mas também mina os esforços para construir uma sociedade mais justa e segura. Enquanto o discurso político discorre sobre a importância da educação para combater a criminalidade, a realidade é que o abismo entre as palavras e as ações continua a se alargar. Então, "Xô Mano" vote consciente!
Outrossim, as deficiências estruturais e pedagógicas persistem, perpetuando um ciclo de desigualdade e injustiça social. A precariedade das instalações escolares, a falta de materiais didáticos adequados e a carência de formação continuada para os professores são apenas alguns dos desafios que continuam a assombrar o sistema educacional brasileiro. Enquanto isso, o mundo avança, exigindo habilidades e competências que muitas escolas brasileiras ainda não conseguem oferecer.
Nesse contexto, é importante que os cursos de licenciatura aprimorem seus currículos, atualizem suas estratégias de ensino e preparem os futuros professores para os desafios contemporâneos da educação. Os cursos de licenciatura no Brasil, hodiernamente, parecem ainda trabalhar a base do mimeógrafo e do fax. Não é mesmo? Além disso, as escolas precisam ser equipadas com materiais didáticos-pedagógicos adequados, que estimulem o aprendizado e promovam o desenvolvimento integral dos estudantes. Chega de materiais de EVA (Etil Vinil Acetato) e recortes de jornais antigos! Estamos na era digital e os alunos estão mais conectados do que os docentes. Pode isso, Arnaldo?
Ademais, é lamentável que um estudante do Ensino Médio não saiba a diferença básica entre Ministério Público, Poder Judiciário ou Defensoria Pública. É triste constatar que um aluno da educação básica não conheça a história e a geografia de Mato Grosso e literatura regional. Ele nunca vai sentir o sentimento de pertencimento se não souber disso. Não dá pra perceber isso? Será que a sociedade não vê isso? Está fácil encontrar um estudante que confunda um evento histórico com trechos de um filme da Marvel! Que adultos estão sendo preparados? Ah, e continuamos votando nos mesmos candidatos e tirando "selfie" com políticos acusados de corrupção que estampam as capas de site!
Diante desse cenário desolador e de terror, é imperativo que a educação deixe de ser apenas um tema conveniente para discursos políticos vazios e se torne uma verdadeira prioridade nacional. Investir na educação não é apenas investir em prédios e materiais, mas sim no futuro do país e de suas gerações.
É hora de os governantes assumirem um compromisso sério e efetivo com a melhoria da educação, implementando políticas que abordem não apenas as lacunas existentes, mas também os desafios emergentes. E os eleitores saibam que o voto vale muito mais que um momento de obrigação eleitoral. Aqui vale a máxima: quer mudança? Seja a mudança!
É, meu amigo leitor, parece que na escola da vida brasileira, a gente tá mais pra "sobrevivência" do que "educação". Que tal se a gente desse um jeito nisso antes que a próxima geração ache que o Pelé é um jogo de PlayStation?
Publicado no site da FENAMP em 27.06.2024 . Clique aqui para ver.
Por um Cuiabanês de "Chapa e Cruz"
Por Hélio Taques
Nesse estirão comprido que é a cultura brasileira, as diferentes regiões do país têm suas próprias peculiaridades linguísticas, as quais refletem não apenas a diversidade geográfica, mas também a riqueza histórica e cultural de cada local. Em meio a esse "chumaço" linguístico, o regionalismo cuiabano emerge como uma variação diatópica única e fundamental para a identidade da Baixada Cuiabana.
O "cuiabanês" é uma pepita de ouro! Tão valioso que não deve ser subestimado ou menosprezado, mas sim celebrado e preservado. Não há como descrever a sensação de reconhecimento quando ouvimos os versos "te deitchar apatchonada, quando ieu mostrar a maionese temperada" na música "Morena do Baguncinha", cantada pelo personagem Xô Dito, interpretado pelo ator Tyago Mourão, ou ainda, os versos "Rasqueado em Cuiabá é só no rebuça e tchuça" na música "Rebuça e Tchuça" dos ícones Pescuma, Henrique e Claudinho.
Expressões como "tchuva" (chuva) e "dgente" (gente) podem ter suas raízes na influência espanhola, um vestígio histórico das interações culturais entre os povos da região. Da mesma forma, a presença da etnia Bororo contribui para a diversidade linguística, enriquecendo o léxico e a gramática do dialeto cuiabano. Você sabia disso? O seu falar é multicultural!
Uma das características marcantes do linguajar cuiabano é o uso de pronomes demonstrativos sem concordância com o sintagma nominal. Por exemplo, é comum ouvir frases como "Esse menina não veio aqui hoje" em vez de "Essa menina não veio aqui hoje". Esse fenômeno, longe de ser uma inadequação gramatical, é uma expressão genuína da singularidade linguística cuiabana, uma manifestação autêntica da oralidade e da identidade cultural local, assim como nosso bolo de arroz e a nossa bocaiuva. Para aqueles que menosprezam ou, simplesmente, rechaçam, indico uma boa leitura do livro "Preconceito Linguístico" de Marcos Bagno.
Outro aspecto distintivo do regionalismo cuiabano é a utilização de construções sintáticas específicas, como na expressão "vou no mamãe" em vez de "vou na mamãe". Essas nuances gramaticais não devem ser encaradas como erros, mas sim como parte integrante da riqueza linguística da região. A nossa força está na diversidade, o que somos sem ela?
É importante ressaltar que há uma diferença crucial entre norma padrão, prescrita pela gramática, e linguagem coloquial, falada no dia a dia. Enquanto a gramática representa as regras formais de uma língua, a língua é viva, dinâmica e moldada pelas interações sociais e culturais. O regionalismo cuiabano é um exemplo perfeito dessa distinção, uma vez que incorpora elementos únicos que transcendem as fronteiras da gramática tradicional, refletindo a autenticidade e a identidade do povo cuiabano para o delírio dos gramáticos mais caxias.
Em um mundo cada vez mais globalizado, é essencial valorizar e proteger as manifestações culturais e linguísticas locais. O regionalismo cuiabano não é apenas uma variação linguística, mas uma parte essencial da herança cultural da Baixada Cuiabana. Ao abraçar e promover essa diversidade linguística, estamos fortalecendo não apenas nossa identidade regional, mas também enriquecendo o mosaico cultural do Brasil como um todo. É a língua cuiabana dando uma piscadinha para o resto do país, valorize-a!
Publicado no site da Gazeta Digital em 16.03.2024. Clique aqui para ver.
Novas Palavras da Língua Portuguesa?
Por Hélio Taques
Nobre leitor, ou seria mais apropriado dizer "queridx leitorx"? Afinal, estamos vivendo na era das novas palavras da Língua Portuguesa, em que até mesmo a gramática resolveu dar uma atualizada e sair do seu tradicionalismo habitual para se jogar na modernidade. Ah, a Língua Portuguesa, essa rede complexa de palavras que se enrosca em nossas mentes e nos faz questionar se realmente sabemos o que estamos falando. Quem nunca, né?
Recentemente, a Academia Brasileira de Letras (ABL) decidiu adicionar algumas novas palavras ao Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp), e como sempre, o resultado é uma mistura deliciosa de surpresa e confusão, com direito a "DR" sobre a palavra "dorama" no jornal Folha de São Paulo.
Essas palavras adicionadas ao VOLP refletem não apenas mudanças linguísticas, mas também sociais, culturais e tecnológicas. Esse ato da ABL não acontece desde 2009 e no final do ano passado, a nobre Academia publicou a 6ª edição do Volp. Essa atualização não apenas consolida a integridade da Língua Portuguesa, mas também reflete como ela está intrinsecamente ligada à vida cotidiana. Palavras como "streaming", "emoji" e "selfie" são exemplos disso. Essas não são apenas estrangeirismo, mas marcadores linguísticos de uma era digital que transformou radicalmente nossas formas de comunicação e interação.
Um exemplo dessas novas palavras é "azeitólogo"? Essa proparoxítona designa uma pessoa especializada em azeites e foi adicionada também ao Volp, devo confessar aqui...que profissão intrigante! Mas não mais do que este vocábulo novo: "letrólogo". Ah, este sim é o herói de todos os amantes da palavra escrita. O letrólogo é aquele que não apenas estuda as letras, mas as ama, desvenda-as, celebra-as. É como este professor que vos escreve e que se lança nas ondas do idioma, navegando entre marés de metáforas e ilhas de ironia. Ah, como é belo ser um letrólogo!
E o que falar sobre o vocábulo "bibliosmia"? Uma palavra que faz o coração de qualquer amante de livros palpitar mais forte. Mas, espera aí, não se engane, não é uma nova forma de bisbilhotar, ou como dizem os cuiabanos "futxicar" e "mixiricar". Bibliosmia é o ato de cheirar livros. Sim, isso mesmo! Para alguns, o cheiro de um livro novo é tão bom quanto a pacupeva frita.
Ah, a ABL incorporou também as palavras "feminicídio" e "gordofobia". Estas são um pouco menos engraçadas. A primeira se refere ao assassinato de mulheres por razões de gênero, enquanto a segunda é o repugnante ato de discriminar ou menosprezar alguém por causa de seu peso. Não há nada de engraçado nisso, apenas uma triste realidade que precisamos enfrentar e combater.
Realidade essa que quase nunca encontramos nos "doramas" (ainda bem). Sim, esta palavra também foi adicionada ao Volp. Ela, na verdade, é uma abreviação para "drama coreano". Parece que os fãs de K-dramas estão oficialmente sendo reconhecidos pelo Volp. É hora de preparar a porção de lambari e se preparar para as reviravoltas emocionantes das novelas coreanas.
Ah, mas espera, se até o "dorama" apareceu na 6ª edição do Volp! onde está o "cuiabanês"? O "vôte" há muito tempo espera ser reconhecido! Quem sabe um dia ele não terá o seu lugar de destaque no Volp? Ao lado de outras expressões regionais que são verdadeiras pérolas da nossa diversidade linguística: "mainha", "oxente" e "xás crianças".
Brincadeiras à parte, a atualização do Volp não é apenas um ato formal, mas um testemunho da vitalidade e da adaptabilidade da Língua Portuguesa. É um lembrete de que a língua é mais do que um conjunto de regras; é um reflexo dinâmico da sociedade que a utiliza.
Caros leitores, vale a pena dar uma espiada na versão on-line da 6ª edição do Volp, disponível na página da Academia Brasileira de Letras! Quem sabe, após essa aventura virtual, muitos de vocês abandonem a versão "negacionista" de mundo e se rendam aos encantos das novas palavras, até mesmo a recém-adicionada "negacionista"! Afinal, a língua está sempre pronta para nos surpreender.
Publicado no site do MidiaNews em 22.03.2024. Clique aqui para ver.
O CINEMA TAMBÉM EDUCA !
Por Hélio Taques
A primeira vez que fui ao cinema eu tinha 11 anos, foi no antigo Cine Bandeirante, na rua Pedro Celestino, a película era Titanic (1997). Lembro-me que alguém pagou as minhas entradas, não tínhamos, enquanto família, o costume irmos ao cinema, talvez fosse pelo preço das entradas, ainda hoje continuam caras. Depois dessa sessão, nunca mais deixei de frequentar essa maravilhosa invenção que nos faz rir, chorar, refletir e, acredite, até estudar. As horinhas no escuro da sala de cinema, comendo pipoca, são complementos às aulas de História, Sociologia, Literatura e, claro, à vida? Pois bem, hoje quero falar sobre como o cinema educa – e faz isso de maneira mais criativa, provocando-nos catarse e potencializando o nosso conhecimento e influenciando nossa vida. Confesso que eu mesmo, fui altamente influenciado pelo filme Escritores da Liberdade (2007) e tantos outros.
Eu já ministrei diversas aulas a partir de filmes ou trechos deles, obras cinematográficas como Sociedade dos Poetas Mortos (1989) nos fazem refletir sobre a importância do pensamento crítico, sobre a liberdade de expressão, quando utilizo filmes assim, vejo meus alunos saírem empolgados da aula. E o filme Que Horas Ela Volta? (2015), não tem como assisti-lo sem sentir um nó na garganta, pois ele discute as nuances das relações sociais no Brasil. Tropa de Elite (2007) que descortina a violência urbana, expansão do tráfico e o trabalho de policiais. É nossa realidade, vemos isso todos os dias na TV, nas nossas ruas, nos nossos becos e centros. Sim, concordo que o cinema traz isso numa visão estética diferenciada, entretanto, não deixa de expor a verdade, o que nos traz a reflexão e, consequentemente, ensina-nos a lidar com tantos "brasis". O cinema é um recurso que oferece o desenvolvimento do pensamento crítico, liberta e atinge o que preconiza a Pedagogia Transformadora de Freire.
Nobre Leitor, vamos pensar nos clássicos. Quem nunca aprendeu mais sobre a Segunda Guerra Mundial com A Lista de Schindler (1993), O Menino do Pijama Listrado (2008), Bastardos Inglórios (2009) do que com os mapas no PowerPoint? Ou descobriu que matemática pode ser emocionante com Uma Mente Brilhante (2001), Estrelas Além do Tempo (2016)? E entender, mais recentemente, o contexto e cenário da criação da bomba atômica com Oppenheimer (2023) E cá entre nós, quantos professores não usaram Central do Brasil (1998) para ensinar sobre desigualdade social no Brasil? A verdade é que o cinema tem a mágica de transformar fatos e teorias em emoções palpáveis – e isso, meu povo, é aprendizado que fica.
Pense comigo: um plano de aula ou um projeto pedagógico bem costurado ajuda os estudantes a se conectarem emocionalmente com temas envolvidos, facilitando a assimilação de conceitos complexos e de conteúdos obrigatórios pela grade escolar. Isso nos faz repensar no país que temos e o povo que somos.
E esse repensar é necessário, pois ainda vemos um filme como "Ainda estou Aqui" indicado ao Oscar em três categorias e que retrata um período obscuro da nossa história recente, sendo vítima de ostracismo nas redes sociais, de invenções descabidas, de torcida contra e todo comentário mal de hipócritas cinéfilos que tentam, de todo modo, diminuir o brilho do cinema nacional. Falta cultura, falta educação, falta patriotismo, falta conhecimento, falta reflexão. E o Cinema pode nos ensinar a sair desse "marasmo". Citando Seu Jorge, sempre "tem um Brasil que soca, outro que apanha", infelizmente!
Mas em se tratando de políticas públicas, o Senador Cristovão Buarque ganhou destaque, pois foi o autor da Lei 13.006/2014 que determinou que as escolas de educação básica têm de exibir no mínimo 02 horas de cinema nacional. O impacto disso na formação dos estudantes é inegável. Filmes brasileiros tem uma gama diversificada de temas e, hodiernamente, tem buscado valorização de minorias e a busca por identidade própria, retratando, muitas vezes, um país ainda não estudado nas salas de aula, como em "Ainda Estou Aqui" (2024). Agora, o Oscar de 2025 chegou para nos lembrar que o cinema brasileiro continua brilhando.
Então, caro leitor, antes de reclamar que seu filho ou sobrinho só quer saber de "streaming", pense nas oportunidades educacionais que o cinema oferece. Entre um Vingadores e outro, talvez ele descubra lições valiosas. Um O Auto da Compadecida (2000) Quem sabe? O importante é reconhecer que a educação vai muito além da lousa e dos livros didáticos. Ela está na tela, na história e no coração de quem assiste.
Portanto, que venha o Oscar, que venham mais filmes educativos e que a pipoca nunca falte. Porque, no final das contas, o cinema é isso: entretenimento, reflexão e, sim, educação. Ou, como diria um certo professor Keating: "Aproveitem o dia, meninos. Façam suas vidas extraordinárias" – nem que seja com um bom filme na mochila.
Publicado no site Capital Política em 30.01.2025. Clique aqui para ver.
Por menos cosquinha na inclusão.
Por Hélio Taques
Caro leitor, há duas semanas, eu estava dando aulas de língua portuguesa para uma turma de cerca de setenta alunos. Entre eles, havia um grupo de alunos surdos acompanhados por seus tradutores de Libras. Até aquele momento, para mim, tudo parecia estar funcionando bem; ou seja, havia inclusão. Mas, durante o intervalo, uma breve conversa com esses alunos revelou uma lacuna enorme que pouco discutimos. Deixe-me explicar: um indivíduo que nasceu surdo terá mais dificuldade em aprender a língua portuguesa do que alguém que perdeu a audição aos dez anos de idade. Isso é óbvio! No entanto, concursos públicos, por exemplo, não consideram essa diferença e aplicam provas como se todos tivessem o mesmo nível. Para se ter uma noção, uma palavra simples para nós, ouvintes, como "regime", muitas vezes não é compreendida no processo de leitura por pessoas surdas, pois muitos foram alfabetizados em Libras. Isso revela uma inclusão incompleta.
Nobre leitor, hoje o nosso assunto exigirá de ti empatia. E como disse o cantor nicaraguense Tony Meléndez em uma apresentação ao Papa João Paulo II: "não digam que não podem. Tem um mundo que só está esperando você dizer sim". O assunto é inclusão e todos nós, especialmente os educadores, já ouvimos falar sobre ela. Nos últimos anos, esse tema tem sido amplamente discutido em diversos setores da sociedade. Escolas, empresas e instituições destacam a necessidade de incluir pessoas de diferentes origens, capacidades e identidades. Que ótimo! Essa visibilidade sempre foi necessária e continuará sendo. Contudo, precisamos falar sobre uma inclusão que vai além das palavras e das aparências. Uma inclusão que vai além dos slogans, adesivos coloridos ou eventos celebrativos; precisamos de ações concretas e duradouras, porque inclusão de verdade não é só tendência, é transformação.
Um protótipo disso, é a presença de tradutores de Libras que é um passo importante, mas não é suficiente para garantir a igualdade de oportunidades. Precisamos de uma abordagem que reconheça e respeite as diferentes trajetórias de aprendizagem dos alunos com deficiência, ajustando métodos de ensino e avaliação para realmente incluir todos.
Não quero, caro leitor, diminuir ou invisibilizar todas as ações já realizadas em prol da inclusão; essas foram legítimas e ajudaram a construir os direitos que temos hoje. Mas ainda temos um longo caminho a percorrer. Infelizmente, é comum observarmos iniciativas de inclusão que são meramente simbólicas, ou como versa o título deste artigo: uma cosquinha! Essas ações muitas vezes se resumem à implementação de políticas que têm mais a ver com cumprir cotas ou demonstrar conformidade com normas do que com promover mudanças reais. Exemplos disso incluem a contratação de pessoas de grupos marginalizados apenas para preencher cotas, sem fornecer suporte adequado ou oportunidades reais de desenvolvimento profissional; a realização de eventos pontuais para celebrar a diversidade, mas sem investir em mudanças estruturais que sustentem a inclusão contínua; e campanhas de marketing que exibem diversidade apenas para melhorar a imagem da marca, sem refletir práticas verdadeiramente inclusivas.
Percebemos assim que esse tipo de inclusão superficial é prejudicial porque cria uma falsa sensação de progresso e pode levar à estagnação na conquista de direitos. Pior ainda, pode levar a sociedade a acreditar que a inclusão já faz parte do seu DNA, quando ainda vemos hospitais sem um tradutor de Libras. Imagine só: você está com dor, é surdo, tenta explicar em Libras para o médico o que você tem, e ele não entende nada. Trágico, não? Isso é exemplo real, de pessoas reais, de pessoas surdas, cadeirantes, cegos e outras deficiências.
Assim é necessário que você, eu, todos nós, percebamos que inclusão verdadeira requer um compromisso profundo e contínuo com a mudança estrutural e cultural. Não se trata apenas de cumprir cotas ou realizar eventos, mas de criar um ambiente onde todas as pessoas se sintam valorizadas e tenham oportunidades iguais de sucesso. Para alcançar essa inclusão genuína, algumas práticas são essenciais. Primeiro, é importante promover a educação contínua sobre diversidade e inclusão para todos na sociedade, incluindo treinamento sobre preconceitos inconscientes e a importância da diversidade para a inovação e o bem-estar coletivo. Segundo, é necessário implementar políticas que vão além das cotas, como programas de mentoria, desenvolvimento de carreira e suporte para necessidades específicas, como adaptações para pessoas com deficiência. Terceiro, é crucial fomentar uma cultura que valorize a diversidade, com líderes políticos que defendam a inclusão e a criação de um ambiente seguro onde todas as vozes possam ser ouvidas e respeitadas. Por fim, é essencial medir regularmente o impacto das iniciativas de inclusão e estar disposto a fazer ajustes, incluindo a coleta de feedback da comunidade envolvida, afinal, eles precisam ser ouvidos em todos os processos de formatação de políticas públicas, especialmente aquelas que os envolvam.
Veja nobre leitor, se não tivermos uma mudança de pensamento, empatia e ação, não seremos capazes de construir uma sociedade justa e solidária e, tampouco, de reduzir as desigualdades sociais e regionais e de promover o bem-estar de todos. Seremos apenas uma versão social do "quase lá". Haja vista que a inclusão verdadeira é um compromisso que exige coragem, dedicação e vontade de enfrentar desafios profundos. Não basta apenas aparentar ser inclusivo; é necessário transformar palavras em ações concretas e duradouras. Afinal, discurso sem prática é como um bolo sem recheio: decepcionante e sem graça.
Publicado no site Capital Política em 30.01.2025. Clique aqui para ver.
O Ouro da Literatura Regional
Por Hélio Taques
A maior crítica literária de Mato Grosso amplia os olhos dos docentes deste estado em um curso em comemoração ao centenário da morte de Machado de Assis. O mundo já falou de Machado de Assis, talvez até mais do que do próprio santo que esse poeta carrega no nome. Machado ampliou a arte da boa literatura e, com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, escreveu a matéria íntima da realidade universal.
Yasmin Nadaf faz revisitar Machado, vivenciá-lo; dá brilho às mentes dos professores com sua sabedoria e abre caminhos para o ensino literário nas escolas. John Dewey, grande representante da educação progressista, escreveu certa vez que "o problema do aluno encontra-se na matéria; o do professor é saber o que faz a mente do aluno com a matéria", e Nadaf sabe fazê-lo tão bem que, a cada pincelada que faz de Machado, nossas mentes parecem girassóis que encontram a luz do sol. O tempo-espaço ganha outra dimensão e entramos na alma de Quincas Borba, Capitu, Brás Cubas — e redescobrimos Machado, depois de cem anos de sua morte, por meio de uma voz doce, uma figura fina, uma sensibilidade literária e um vasto conhecimento de causa — de uma professora que, há tempos, os próprios professores não viam.
Yasmin é crítica literária, mas parece transcender a figura cética que esses profissionais costumam carregar e passa a denotar uma beleza crítica que poucos possuem, além de Machado. Machado e Yasmin estão para a educação e o conhecimento como a fé está para Deus: uma relação em que todos ganham, aprendem, vivenciam e reconstroem a forma de ensinar a literatura clássica em uma educação que está distorcida, que não valoriza o letramento literário e que faz discursos com base em uma educação superficial.
O curso "Revisitando Machado de Assis no centenário de sua morte" (Palácio da Instrução, de 29 de setembro a 2 de outubro) não foi só um curso — foi uma faculdade que muitos não tiveram. Machado não foi só um poeta estudado: foi a teoria do aprendizado. E Yasmin não foi apenas uma palestrante; foi a professora no sentido real da palavra: Educação!
Publicado no Jornal Diário de Cuiabá em 11.10.2008. Clique aqui para ver.