Jejé de Oya

De Hélio Taques  

No coração de Cuiabá, entre pulseiras e adereços,

seu turbante, seu colonismo, seu cetim.

Tivemos um costureiro de nome José Jacinto,

de Rosário, ele saiu.

Na terra pantaneira de aguapés vastos,

onde o sol brilha em festim,

Ergue-se majestoso, Jejé de Oyá,

símbolo de irreverência sem fim.


Suas histórias se estendem, 

como as asas de um pássaro em voo,

A contar todos os fuxicos, mexericos e cochichos

Para o preconceito infeliz: preto, negro, bicha, veado

Ele não só sambava, ele rasqueava, riscava,

Danava-se!

Dgente esfarrapada.


Nos arredores da Igreja da Boa Morte, ele surgia

Figura requisitada em bailes carnavalescos

Seu talento, sua liturgia.

Pura dramaturgia!


De temperamento guerreiro,

bailava no Sayonara,

Uma voz, um canto verdadeiro

Jejé era único, impressionara.


Oh, Jejé dos bailes e dos carnavais

Que tua alegria inunde nossos corações e nossos quintais.

Cuiabá te saúda, não te esquecerá.

Erguemos nossos aplausos, sob olhar de Oyá!.

Jejé de Oyá foi irreverência, elegância e resistência em Cuiabá. Alfaiate, colunista e folião, desafiou padrões de gênero e racismo entre as décadas de 50 e 80, vestindo-se com brilho e coragem. Ícone da diversidade, deixou sua marca na cultura cuiabana.


POEMA:

MARIA TAQUARA 

De Hélio Taques

Eu sou de Cuiabá
Não nego meu sotaque
faço angu de fubá.
E danço no ritmo do atabaque.

Eu sou Maria Taquara
Maria pobre, descalça
Não me cutuca com vara
Que eu visto minha calça.

Ando por Cuiabá
Fazendo estripulias
Bebendo meu guaraná
E cantando minhas cantorias.

Fumo cigarro de palha
Debaixo da mangueira
Meu general usa farda
Ele goza comigo a noite inteira.

Sou livre como tuiuiú
Só não gosto da fome
Ela fede que nem o urubu
Na magreza daqueles que somem.

Meu nome é Maria
Chamam-me de Taquara
De noite, não faço romaria,
eu viro pau de arara.

Maria Taquara foi lavadeira, mulher negra e símbolo de resistência em Cuiabá nas décadas de 1930 e 1940. Com sua trouxa na cabeça e passos firmes pelas ruas, desafiou padrões ao usar calças e ser livre. Hoje, é memória viva e inspiração para a luta feminina.

QUEM ME DEU ASAS?

Nem todos os voos são visíveis aos olhos. Alguns acontecem dentro do peito, em silêncio, como resistência. Neste livro de contos marcante e atual, Hélio Taques dá voz a personagens LGBTQIAP+ em narrativas que revelam o cotidiano de quem vive entre o desejo de liberdade e o peso do preconceito. Cada conto é atravessado por simbolismos ligados a pássaros — seres que representam leveza, fuga, beleza e identidade. Com escrita fluida, sensível e ao mesmo tempo crítica, os textos abordam temas como homofobia familiar, afetos silenciados, envelhecimento gay, travestilidades e resistência nos espaços sociais. Das quadras de futebol ao palco de uma escola, dos bares às solidões digitais, os personagens enfrentam seus medos, dores e sonhos em busca de reconhecimento e pertencimento. Este é um livro sobre ser e resistir. Sobre transformar a dor em poesia e as asas cortadas em novos voos. Ideal para leitores que apreciam literatura contemporânea brasileira, diversidade de vozes e narrativas que emocionam, provocam e inspiram.

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LIVRO DE POESIA EM BREVE

Com sensibilidade única e profundo amor pela cultura local, o escritor Hélio Taques está em produção de um livro de poesias dedicado às figuras marcantes e simbólicas da nossa terra. São versos que retratam a alma do povo, as histórias de gente simples e extraordinária, as vozes que ecoam pelas ruas, rios e becos da Baixada Cuiabana. Cada poema é um retrato lírico de personagens reais ou imaginários que fazem parte da identidade regional, costurados com humor, emoção e respeito à nossa memória coletiva. Em breve , o livro estará disponível para leitura e compra , e você poderá se emocionar, se reconhecer e se orgulhar das raízes que nos moldam.

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